segunda-feira, 22 de agosto de 2016

Um sonho que não era meu

A minha geração de estudantes de jornalismo deu muita sorte, pois ingressou no mercado de trabalho a tempo de participar de 3 grandes coberturas: manifestações de 2013, Copa do Mundo e Olimpíada. Das duas primeiras, participei do início ao fim. Mas não acreditava que aconteceria o mesmo durante os Jogos Olímpicos. Quando o Rafael Marques, coordenador de esporte do Sistema Globo de Rádio, disse que havia me credenciado, pensei: “O Rafa está louco, ele sabe que não entendo nada de esportes que não tenham piloto e motor.”
Admito que existia uma má vontade de minha parte em aceitar os Jogos Olímpicos, pois o Parque Olímpico, principal local de competições, foi construído no solo sagrado do saudoso Autódromo de Jacarepaguá.
Faltando um mês para o início da Olimpíada, houve uma mudança na escalação da equipe de cobertura dos Jogos. Torci para ficar de fora. Mas os gestores do esporte mantiveram a minha permanência na equipe.
Não tinha jeito, eu participaria da Estação Rádio Globo CBN, uma rádio criada exclusivamente para a cobertura da Olimpíada, 24 horas por dia. Mais uma vez pensei: “Isso é loucura! O SporTV vai transmitir a Olimpíada em 16 canais, não tem como fazer o mesmo no rádio com apenas 1 canal (dial).”

A reunião realizada na véspera da abertura, mostrou que eu estava errado novamente. Nunca vi uma equipe tão comprometida e motivada. Foi aí que caiu a ficha, fazer a história com aquelas pessoas era um grande presente. Voltei para casa sorrindo, porém inseguro, algo que não é muito comum. Na noite que antecedeu o início da cobertura, eu não consegui dormir. Senti a pressão de participar de algo tão grande sem ter o domínio necessário do assunto. Mas já no primeiro dia, ficou evidente que a palavra ‘equipe’ passaria a ter outro significado. Infelizmente, profissionais da área de comunicação costumam pecar muito por causa da vaidade (não me excluo), o que sempre compromete o resultado do trabalho em grupo. Contudo, desta vez foi diferente. Uma equipe com mais de 50 pessoas unidas pelo mesmo ideal: fazer história no rádio. E fizemos! Diretores, gerentes, coordenadores, chefes de reportagem, apresentadores, narradores, repórteres, produtores, operadores de áudio e estagiários, todos se ajudando 24 horas por dia. Compartilhávamos nossas experiências diariamente em um grupo de whatsapp, o que facilitava muito a vida do colega escalado para ir ao mesmo lugar no dia seguinte.
Mas eu não era o único intruso no esporte, mais oito companheiros das coberturas factuais da cidade estavam passando pelo mesmo desafio. Só nos restou estudar muito para não vacilarmos no ar. Fizemos caminhadas quilométricas diariamente.Trabalhamos mais de 10 horas todos os dias, quase sempre em pé. Sentimos fome, sede, calor e frio. Mesmo com tudo isso, fomos incansáveis. Nada tirou o sorriso do nosso rosto.
Foi incrível! Pude me reaproximar de amigos, me encantar por pessoas com quem antes eu não simpatizava e trabalhar com monstros do rádio esportivo brasileiro. Nenhuma modalidade passou batida na Estação. Fizemos em um canal de rádio o que a principal emissora esportiva de TV do país fez em 16. 
Ontem, na comemoração da equipe após o encerramento, o Marcos Guiotti me disse algo e passei a compartilhar do mesmo pensamento: “Os próximos livros escritos sobre rádio para universitários da área de comunicação, não poderão ignorar o que fizemos nos últimos 15 dias.”
Sentirei falta dos Jogos Rio 2016. Mas a saudade da Estação Rádio Globo CBN será muito maior.
Aos que me proporcionaram essa experiência fantástica, muito obrigado!