sábado, 4 de maio de 2013

Nada está tão ruim que não possa piorar

O meu primeiro estágio em jornalismo começou em abril de 2011, no programa Conexão, da Rádio Metropolitana AM. O programa era dirigido pelo respeitado jornalista Fabio Lau, que fez história no impresso e na TV como repórter investigativo. Lembro de uma bronca que levei dele, pois uma entrevistada levou o assunto para um lado muito mais forte e interessante no ponto de vista jornalístico, só que dizia respeito a algo que a fez chorar na minha frente. Fiquei comovido e terminei a entrevista. Quando apresentei a gravação, ele enlouqueceu. Se eu tivesse dado continuidade à conversa, com certeza, seria a parte mais importante da reportagem. Aprendi com o Fabio Lau que não existe pauta ruim, pois sempre há uma novidade que precisa ser descoberta. Mas eu sentia falta da experiência do factual ao vivo, então saí do programa Conexão no final daquele ano e fui para a Rádio Roquette Pinto FM.
Atualmente,  estou estagiando no Sistema Globo de Rádio (mas a realização deste sonho merece um post exclusivo depois). Há 20 dias, um ouvinte mandou um e-mail para a Rádio CBN relatando que explosões no terreno do Camboatá, onde o governo pretende construir o novo autódromo do Rio, estavam causando rachaduras em casas do bairro de Ricardo de Albuquerque. A Christiane Alves, chefe de reportagem da CBN Rio, encaminhou a pauta para o repórter Ricardo Ferreira e pediu que eu o acompanhasse na matéria. Fomos até Ricardo de Albuquerque, entramos em algumas casas, fizemos algumas entrevistas e o Ferreira fez um registro ao vivo no programa CBN Total.



Como sou apaixonado por automobilismo, acompanhei todas as notícias referentes à desativação do autódromo de Jacarepaguá e à construção do autódromo de Deodoro. Como a bronca que levei do Fabio Lau, há dois anos, me rendeu um bom ensinamento, não fiquei satisfeito com o resultado final da matéria, pois provavelmente algo muito maior estava por trás daquelas rachaduras. Eu e o Ferreira decidimos investigar com mais profundidade as denúncias dos ouvintes. Logo no segundo dia trabalhando o assunto, fomos surpreendidos com depoimentos impressionantes que nos encheu de gás para prosseguirmos com a matéria. Nos sete primeiros dias, trabalhamos o material paralelamente com as nossas obrigações na redação, colhendo material e depoimentos depois do expediente e nas folgas. Quando o Eduardo Compan, coordenador de jornalismo da CBN,  viu que já tínhamos praticamente um dossiê sobre o caso, ele autorizou que nos dedicássemos exclusivamente ao assunto do Camboatá, nos oferecendo a estrutura necessária para a realização da matéria. Até o repórter aéreo Genilson Araújo colaborou com a reportagem, registrando imagens aéreas do local.
A cada dia que passava, a reportagem ficava mais sólida e a nossa satisfação superava o cansaço devido ao trabalho exaustivo de pesquisa. Eu quase não dormi nos dias que antecederam a veiculação da primeira reportagem. Estava totalmente "adrenalizado".
Finalmente, chegou o dia da veiculação da primeira reportagem. A direção da CBN solicitou que a matéria fosse destaque da programação da rádio durante todo o dia 1º de maio. A reportagem foi veiculada em todos os programas da emissora neste dia, na rede e no local.



Logo após a primeira veiculação da matéria no Jornal da CBN, às 07h, percebemos que tínhamos feito um golaço, pois pegamos de surpresa todas as autoridades envolvidas e os outros colegas da imprensa. Nenhum outro jornalista do país tinha, ao menos,  10% do nosso material. O vídeo que fizemos com imagens e vídeos da denúncia foi acessado mais de 20 mil vezes  no YouTube nas primeiras 24 horas no ar: 

Como os jornalistas de outros veículos de imprensa não tinham a mínima ideia de como conseguimos o material, o jeito foi reproduzir o nosso  e dar o crédito à CBN.
Uma reportagem de apenas 5 minutos envolveu Prefeitura do Rio, Governo do Estado, Exército, Ministério do Esporte e Confederação Brasileira de Automobilismo.
O dia seguinte foi de coletivas de impresa, entrevistas e explicações. A repercussão foi enorme, principalmente em editorias de esporte e automobilismo.
No dia 03 de maio, ainda se especulava os explosivos, mas pegamos novamente todos de surpresa com a segunda parte da matéria, tratando do aspecto ambiental. Mais depoimentos exclusivos de especialistas e autoridades e mais entidades envolvidas: Inea, Ministério Público e Instituto Jardim Botânico. 



A ideia de dividir os assuntos em duas matérias funcionou perfeitamente, pois mudamos repentinamente o  lead dos nossos concorrentes de novo.
Falar que não estou orgulhoso seria hipocrisia. Fui parabenizado por pessoas que são minhas referências profissionais.
O resultado final foi muito mais expressivo do que imaginávamos no início do trabalho e a satisfação do dever cumprido com os ouvintes é enorme!
Se o jornalista buscar exclusivamente a verdade, ninguém poderá desmenti-lo. Neste caso, nenhuma autoridade teve como argumentar ou questionar as reportagens.

Não posso terminar essa postagem sem homenagear o Mestre Ricardo Ferreira. Mesmo  sendo um dos ícones do rádiojornalismo no Rio de Janeiro, ele me tratou sempre de igual para igual durante todo o tempo, confiando no meu potencial e aceitando minhas sugestões. Só um excelente profissional e um homem grande caráter dividiria uma matéria como essa com um estagiário que acabara de conhecer. Sou fã do Ricardo Ferreira há anos e nem nos meus melhores sonhos poderia pensar que, um dia, seríamos parceiros em uma reportagem tão importante. Melhor do que isso, é poder chamá-lo de amigo. Muito obrigado pela confiança! Que venha a próxima...


Nenhum comentário:

Postar um comentário