O meu primeiro estágio em jornalismo começou em abril de
2011, no programa Conexão, da Rádio Metropolitana AM. O programa era dirigido
pelo respeitado jornalista Fabio Lau, que fez história no impresso e na TV como
repórter investigativo. Lembro de uma bronca que levei dele, pois uma
entrevistada levou o assunto para um lado muito mais forte e interessante no
ponto de vista jornalístico, só que dizia respeito a algo que a fez chorar na
minha frente. Fiquei comovido e terminei a entrevista. Quando apresentei a
gravação, ele enlouqueceu. Se eu tivesse dado continuidade à conversa, com
certeza, seria a parte mais importante da reportagem. Aprendi com o Fabio Lau
que não existe pauta ruim, pois sempre há uma novidade que precisa ser
descoberta. Mas eu sentia falta da experiência do factual ao vivo, então saí do
programa Conexão no final daquele ano e fui para a Rádio Roquette Pinto FM.
Atualmente, estou
estagiando no Sistema Globo de Rádio (mas a realização deste sonho merece um
post exclusivo depois). Há 20 dias, um ouvinte mandou um e-mail para a Rádio
CBN relatando que explosões no terreno do Camboatá, onde o governo pretende construir
o novo autódromo do Rio, estavam causando rachaduras em casas do bairro de
Ricardo de Albuquerque. A Christiane Alves, chefe de reportagem da CBN Rio,
encaminhou a pauta para o repórter Ricardo Ferreira e pediu que eu o
acompanhasse na matéria. Fomos até Ricardo de Albuquerque, entramos em algumas
casas, fizemos algumas entrevistas e o Ferreira fez um registro ao vivo no programa
CBN Total.
Link pauta inicial: http://cbn.globoradio.globo.com/rio-de-janeiro/2013/04/15/IMOVEL-TEM-PEQUENAS-RACHADURAS-EM-RICARDO-DE-ALBUQUERQUE.htm (áudio está baixo)
Como sou apaixonado por automobilismo, acompanhei todas as
notícias referentes à desativação do autódromo de Jacarepaguá e à construção do
autódromo de Deodoro. Como a bronca que levei do Fabio Lau, há dois anos, me
rendeu um bom ensinamento, não fiquei satisfeito com o resultado final da
matéria, pois provavelmente algo muito maior estava por trás daquelas
rachaduras. Eu e o Ferreira decidimos investigar com mais profundidade as
denúncias dos ouvintes. Logo no segundo dia trabalhando o assunto, fomos
surpreendidos com depoimentos impressionantes que nos encheu de gás para prosseguirmos
com a matéria. Nos sete primeiros dias, trabalhamos o material paralelamente com
as nossas obrigações na redação, colhendo material e depoimentos depois do
expediente e nas folgas. Quando o Eduardo Compan, coordenador de jornalismo da
CBN, viu que já tínhamos praticamente um
dossiê sobre o caso, ele autorizou que nos dedicássemos exclusivamente ao
assunto do Camboatá, nos oferecendo a estrutura necessária para a realização da
matéria. Até o repórter aéreo Genilson Araújo colaborou com a reportagem,
registrando imagens aéreas do local.
A cada dia que passava, a reportagem ficava mais sólida e a nossa
satisfação superava o cansaço devido ao trabalho exaustivo de pesquisa. Eu
quase não dormi nos dias que antecederam a veiculação da primeira reportagem. Estava
totalmente "adrenalizado".
Finalmente, chegou o dia da veiculação da primeira
reportagem. A direção da CBN solicitou que a matéria fosse destaque da
programação da rádio durante todo o dia 1º de maio. A reportagem foi veiculada
em todos os programas da emissora neste dia, na rede e no local.
Link da primeira reportagem: http://cbn.globoradio.globo.com/rio-de-janeiro/2013/05/01/AREA-DO-NOVO-AUTODROMO-DO-RIO-E-CONSIDERADA-DE-RISCO-MAXIMO-DE-EXPLOSAO.htm
Logo após a primeira veiculação da matéria no Jornal da CBN,
às 07h, percebemos que tínhamos feito um golaço, pois pegamos de surpresa todas
as autoridades envolvidas e os outros colegas da imprensa. Nenhum outro jornalista
do país tinha, ao menos, 10% do nosso
material. O vídeo que fizemos com imagens e vídeos da denúncia foi acessado
mais de 20 mil vezes no YouTube nas
primeiras 24 horas no ar:
Como os jornalistas de outros veículos de imprensa não
tinham a mínima ideia de como conseguimos o material, o jeito foi reproduzir o
nosso e dar o crédito à CBN.
Uma reportagem de apenas 5 minutos envolveu Prefeitura do
Rio, Governo do Estado, Exército, Ministério do Esporte e Confederação
Brasileira de Automobilismo.
O dia seguinte foi de coletivas de impresa, entrevistas e
explicações. A repercussão foi enorme, principalmente em editorias de esporte e
automobilismo.
No dia 03 de maio, ainda se especulava os explosivos, mas
pegamos novamente todos de surpresa com a segunda parte da matéria, tratando do
aspecto ambiental. Mais depoimentos exclusivos de especialistas e autoridades e
mais entidades envolvidas: Inea, Ministério Público e Instituto Jardim
Botânico.
A ideia de dividir os assuntos em duas matérias funcionou
perfeitamente, pois mudamos repentinamente o lead dos nossos concorrentes de novo.
Falar que não estou orgulhoso seria hipocrisia. Fui
parabenizado por pessoas que são minhas referências profissionais.
O resultado final foi muito mais expressivo do que imaginávamos
no início do trabalho e a satisfação do dever cumprido com os ouvintes é
enorme!
Se o jornalista buscar exclusivamente a verdade, ninguém
poderá desmenti-lo. Neste caso, nenhuma autoridade teve como argumentar ou
questionar as reportagens.
Não posso terminar essa postagem sem homenagear o Mestre
Ricardo Ferreira. Mesmo sendo um dos
ícones do rádiojornalismo no Rio de Janeiro, ele me tratou sempre de igual para
igual durante todo o tempo, confiando no meu potencial e aceitando minhas
sugestões. Só um excelente profissional e um homem grande caráter dividiria uma
matéria como essa com um estagiário que acabara de conhecer. Sou fã do Ricardo
Ferreira há anos e nem nos meus melhores sonhos poderia pensar que, um dia,
seríamos parceiros em uma reportagem tão importante. Melhor do que isso, é
poder chamá-lo de amigo. Muito obrigado pela confiança! Que venha a próxima...